Bom, recentemente eu descobri uma nova paixão cinematográfica: os filmes japoneses de monstros gigantes que invadem a cidade, como Godzilla (1954) e a Mothra (1961).
Como de costume após assistir a um filme, pesquisei mais sobre e descobri algo muito interessante:
Sabiam que esses filmes traziam críticas fortíssimas ao surgimento das armas nucleares?
Para entender mais sobre o assunto, vamos encaixar um pequeno contexto histórico:
Em 1945, apenas 9 anos antes do lançamento do primeiro filme do Godzilla, o mundo ainda estava na Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Um dos acontecimentos mais marcantes e terríveis da guerra aconteceria no Japão, nos dias 6 e 9 de agosto de 1945, quando as cidades de Hiroshima e Nagasaki foram destruídas por bombas nucleares lançadas pelos Estados Unidos. Centenas de milhares de pessoas foram mortas no mesmo momento e mais alguns milhares morreram tempos depois devido aos efeitos da radiação. Um novo tipo de arma é mostrado para o mundo.
Logo em seguida, o mundo entra em mais uma guerra: a Guerra Fria, em que os Estados Unidos e a União Soviética começaram a fazer demonstrações de poder através dos testes das bombas atômicas. Até mesmo a Guerra da Coreia, em 1950, piorou o medo dos japoneses de um novo ataque nuclear.
O tema foi abordado por várias produções ao longo dos anos em produções hollywoodianas como O Dia em Que a Terra Parou (1951) e A Hora Final (1959).
Mas abordar o tema nas produções não se resumiu apenas aos Estados Unidos e chegou até o Japão. Vou explicar para vocês agora como foi abordado em cada um dos três filmes que eu assisti até agora:
- O monstro Godzilla em Godzilla (1954) e Godzilla vs Mothra (1964)
Sendo a franquia com mais filmes da história (ao todo, são 28 japoneses e 7 americanos), o monstro virou nada mais que uma história com muito CGI típica do verão americano, porém o filme original é muito mais tenso, chegando a abordar temas mais profundos.
Um réptil gigantesco de repente aparece em Tóquio destruindo tudo e todos que vê a sua frente, dono de uma fúria implacável.
Mas afinal, de onde surgiu o Godzilla?
Especula-se que o monstro tenha sofrido uma mutação genética graças à radioatividade presente, deixando sua pele a prova de balas e de bombas. Também é capaz de se regenerar, ou seja, viveria por muito tempo. Até mesmo seu sopro de fogo se assemelhava a um efeito da bomba atômica. Ele é inclusive chamado de “o monstro atômico” em alguns momentos do filme
O filme fala explicitamente sobre Hiroshima e Nagasaki e ainda faz uma referência que eu não peguei no momento em que assisti: quando os Estados Unidos detonaram a bomba de hidrogênio (a mais poderosa de todos os tempos) no Atol do Bikini, havia um barco pesqueiro chamado Dragão Sortudo por perto. Toda a tripulação morreu dias depois devido à radiação. As primeiras vítimas do Godzilla foram pessoas de um barco pesqueiro.
Nesse primeiro filme, também existe um cientista que não quer que o Godzilla seja destruído: ele é o único da espécie e pode ser material para um estudo sobre como ele sobreviveu a tamanha exposição à radiação. Ainda reforça: se os testes nucleares não cessarem, outro monstro como o Godzilla poderá aparecer pelo Japão.
Nem todos os filmes do monstro abordam esse tema: em várias das sequências ele simplesmente ajuda o Japão a se proteger de outras ameaças gigantescas ou só quer quebrar tudo mesmo. Porém nesses dois filmes desse tópico dá para perceber e analisar bem as mensagens anti-bélicas.
Eu nem preciso falar que as versões americanas removeram as críticas aos ataques de Hiroshima e Nagasaki né?
- Mothra em Mothra – A Deusa Selvagem (1961) e Godzilla vs Mothra (1964)
A Mothra, diferente do Godzilla, não foi criada por radiação. Ela é uma deusa (em formato de borboleta gigante) que mora em uma ilha chamada Infante (fictícia, como todas as cidades desse filme). Ela é despertada quando exploradores sequestram suas servas.
Embora aborde o assunto de forma menos explícita que Godzilla, a Mothra vive em uma ilha que servia de local de testes para bombas nucleares, e tinha uma radiação altíssima. Os habitantes do lugar acabaram desenvolvendo remédios para sobreviver, chegando até a ajudar os náufragos de um barco que acabaram sendo levados para lá graças a um tufão. Os moradores da ilha Infante chegam a implorar o fim dos testes atômicos na área.
Menos destrutiva e mais amigável, através da Mothra também podemos entender um pouco mais sobre o efeito das bombas nucleares no cinema.
Esses filmes também abordam outros aspectos como o perigo da ganância extrema, através de pessoas inescrupulosas que querem lucrar acima de qualquer risco e até mesmo quebrando leis e a própria moral e o risco do homem manipular a natureza para que ela faça o que ele quer (coisa que Jurassic Park iria abordar muitos anos depois).
Tratando diretamente com o medo do desconhecido e de uma nova guerra, esses filmes tentavam trazer um tipo de aviso para o Japão e para o resto do mundo sobre os riscos de usar armas tão perigosas e destrutivas como as bombas nucleares.
O mais interessante de tudo é que os finais sempre traziam mensagens positivas de esperança e cumplicidade e a importância de nos unirmos para construir um mundo mais pacífico.
Espero que vocês tenham gostado!
Fontes:
Luneta Criativa - https://lunetacriativa.wordpress.com/2018/06/24/historia-godzilla-e-o-medo-de-armas-nucleares/
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